quarta-feira, 11 de maio de 2011

Embrapa e Chesf atuam para aumentar produção leiteira nos municípios da borda do Lago de Sobradinho-BA

Seu Ranulfo quer melhorar produção de leite do rebanho
Seu Ranulfo Lopes Almeida é um agricultor da zona rural de Remanso (BA). Na sua propriedade, cria em torno de 300 cabeças de caprinos, basicamente. Cerca de 100 são cabras e a produção leiteira é aproveitada por sua esposa para elaboração de doces e queijos que comercializa em feiras e eventos na cidade.
Na época de chuva, a ordenha das cabras costuma render cerca de 32 litros de leite por dia. Na seca, devido à pequena disponibilidade de forrageiras cultivadas (capim, leucena, palma) e nativas, a quantidade despenca quase pela metade para 18-20 litros/dia. Quando a estiagem fica mais intensa, “às vezes é preciso comprar algum farelo no comércio. Não tem dinheiro que dê”, lamenta Ranulfo.


Enfrentar - A superação de dificuldades como as enfrentadas por seu Ranulfo está nos planos do projeto “Ações de desenvolvimento para produtores agropecuários e pescadores do território do entorno da Barragem de Sobradinho-BA”, em execução por pesquisadores e técnicos da Embrapa semiárido e Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf).


Este projeto conta com 14 Planos de Ação que perseguem o objetivo de elevar a produtividade das atividades agrícolas nos municípios baianos de Casa Nova, Pilão Arcado, Remanso, Sento Sé e Sobradinho. 

Segundo o coordenador Rebert Coelho Correia, o que trata da pecuária leiteira vai enfrentar dois sérios obstáculos da atividade leiteira entre os agricultores familiares do semiárido, em geral. Um, é alta dependência que têm dos insumos externos no período de seca, e outro é a produção irregular de leite e com qualidade inadequada.


Equilíbrio - Nas terras de seu Ranulfo, os especialistas da Embrapa Semiárido aproveitaram o atual período de chuvas para implantar junto com o agricultor diferentes plantas forrageiras que vão ter a finalidade de atender as exigências nutricionais do rebanho, principalmente das matrizes leiteiras.
De acordo com os pesquisadores José Luiz de Sá e Cristiane Otto de Sá, responsáveis pelo plano de ação do leite no projeto, a diversidade de forragens na propriedade contribui para alimentar os animais de forma equilibrada ao atender as necessidades de proteína e de energia, dentre outros nutrientes.


Nativas ou adaptadas ao clima da região, essas espécies cultivadas alcançam bom potencial produtivo e podem ser conservadas por meio de práticas de ensilagem e fenação para serem utilizadas no período seco. Com estratégias assim, o agricultor estabiliza a oferta de forragem ao logo de todo o ano e consegue manter produtivas as matrizes leiteiras.


Consórcios – O projeto prevê implantar trabalho semelhante em outras propriedades nos cinco municípios do entorno da barragem de Sobradinho. Em cada uma delas será mantida uma área de caatinga preservada ou reflorestada onde os animais irão pastar na época de chuva.


Esta fonte será complementada com outras forrageiras: pastagens cultivadas, bancos de proteína de leucena com sorgo e de gliricídia com milho, do consórcio com palma x gliricídia x sorgo e de plantio adensado de palma, em áreas variando de acordo com a capacidade de suporte para o rebanho existente.


José Luiz destaca ainda a necessidade do agricultor manejar de forma adequada a dieta do rebanho, especialmente na seca. O ideal é que ele tenha alimentos ricos em energia, como por exemplo, a palma; proteína que está presente nas leguminosas, como a leucena e a gliricídia e, fibra, comumente encontrado na palhada do milho.


Se o agricultor ofertar muito carboidrato e pouca proteína ou o contrário, vai desperdiçar alimento. Os animais podem não morrer na seca, mas os resultados na produção de leite não serão tão significativos se a alimentação não for equilibrada.


O ideal é que as opções de forragens utilizadas na alimentação de rebanhos leiteiros estejam presentes na propriedade, para reduzir a dependência dos insumos externos, como o farelo que seu Ranulfo tem que comprar na época da seca.



Kit – Outra preocupação do pesquisador é com a ordenha nas propriedades. “A precariedade da infraestrutura para retirada do leite nos currais acarreta problemas higiênicos que desvalorizam a produção pela perda de qualidade e pode enfrentar dificuldades comerciais pela inadequação ao estabelecido na Instrução Técnica da Normativa 51”, afirma.


Assim, as propriedades beneficiadas pelo projeto Embrapa/Chesf vão aprender a montar um Kit Embrapa de Ordenha Higiênica Manual, desenvolvido pela Embrapa Gado de Leite. Esta tecnologia de baixo custo, fácil de ser apropriada pelos agricultores, é eficiente em minimizar o problema da contaminação microbiana do leite e garantir a presença dos agricultores familiares no mercado formal.


Capacitar – Rebert Coelho explica que o trabalho dos pesquisadores e dos técnicos nas propriedades será mantido em interação constante com os agricultores. As áreas onde estão instalados os sistemas agrossilvopastoris terão uma dinâmica pedagógica de funcionamento com avaliações constantes das tecnologias e dos impactos sobre a atividade leiteira.


Estas áreas, denominadas de Campos de Aprendizagem Tecnológica (CATs), também serão úteis para localização de eventos de capacitação. Cada uma delas servirá para demonstração, treinamento e de distribuição de sementes e mudas para outros agricultores que tem a atividade leiteira como parte importante do seu sistema de produção e de geração de renda.


“Nossa meta é até o final do projeto em 2015 treinar pelo menos 300 agricultores dos municípios Casa Nova, Pilão Arcado, Remanso, Sento Sé e Sobradinho nos chamados CATs de Pecuária Leiteira”.