terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Projeto beneficia produtores do entorno das Eólicas de Casa Nova



Por meio de uma parceria firmada entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), mais de mil produtores familiares do entorno dos parques eólicos de Casa Nova (BA) serão beneficiados, com ações que visam fortalecer a agropecuária na região.

De acordo com o coordenador do projeto Eólicas de Casa Nova, o pesquisador da Embrapa Semiárido Rebert Coelho Correia, as ações têm uma dinâmica participativa e original. “Nós construímos a proposta promovendo consultas a órgãos públicos acerca do potencial agropecuário, problemas produtivos e ambientais, e das carências técnicas no entorno da região. Nossa intenção é aproximar os processos de inovação e de participação, pois grande parte do projeto vai ser desenvolvido em pequenas áreas de demonstração ou de experimentação técnica, em propriedades de agricultores ou entidades com perfil agregador e multiplicador”, destaca.

As atividades do projeto tiveram início em janeiro desse ano, com a realização de entrevistas com 72 produtores da área do parque. A partir das entrevistas, estão sendo selecionadas propriedades para a instalação dos Campos de Aprendizagem Tecnológica (CATs). Eles funcionarão como salas de aula a céu aberto, servindo como locais de exposição e, ao mesmo tempo, de irradiação das inovações, por meio da realização de eventos de transferência de tecnologias, treinamentos e capacitações de agricultores e profissionais vinculados a órgãos públicos e privados de assistência técnica e extensão rural.

Essas entrevistas também serão utilizadas, posteriormente, para comparar a realidade dos agricultores antes e depois do projeto. “Nós temos duas expectativas: primeiro de recuperar o ambiente que foi mexido, uma vez que, para a construção ou recuperação de estradas dos parques eólicos foi retirada a vegetação e solo de algumas áreas denominadas jazidas e, segundo, de deixar os agricultores que estão naquela área com uma vida melhor do que têm hoje”, conta o pesquisador da Embrapa Semiárido José Nilton Moreira.

Com o início das chuvas na região, outras ações começaram a ser realizadas nesse mês de fevereiro, a exemplo da distribuição de sementes de culturas alimentares, como feijão, abóbora e milho, e também de material forrageiro, como mudas de gliricídia, raquetes de palmas e sementes de sorgo. Além disso, o gestor técnico do projeto por parte da Chesf, Nevio Cichelero Spadoa, esteve na região e visitou, juntamente com uma equipe de pesquisadores da Embrapa, a área de atuação do projeto, onde se localizam seis jazidas que foram utilizadas para construção das estradas que viabilizaram o transporte das torres eólicas dos parques.

Segundo Francisco Pinheiro Araújo, pesquisador da Embrapa Semiárido, durante a visita foi possível observar mudanças no cenário das jazidas, em comparação com o relatório elaborado em 2015, quando os parques ainda estavam terminando de ser instalados, como a ocorrência de plantas nativas nos locais onde já existia um pouco de matéria orgânica. “Ao longo do projeto, pretendemos construir poços artesianos, construir e/ou ampliar barreiros para fazer irrigação complementar, além de fazer um manejo de solo nessas jazidas, tentando dar uma condição mínima para o plantio de espécies nativas”, conta.

As atividades do projeto têm foco na sustentabilidade da agropecuária na região, envolvendo sistemas de produção de importância econômica, social e ecológica, como a fruticultura de sequeiro, a criação de abelhas e de caprinos, ovinos e bovinos para leite e corte e para a elaboração de produtos alimentares derivados, a exemplo do queijo.

As estratégias adotadas objetivam, ainda, mitigar o uso excessivo dos recursos naturais e de insumos agrícolas, sem prejuízo da produtividade agrícola e da segurança alimentar das famílias. Também será realizada uma avaliação do potencial agrícola dos solos do município, além de um estudo dos impactos das ações executadas ao longo dos três anos de duração projeto.

Responsabilidade Social – O projeto “Ações de desenvolvimento para produtores agropecuários do entorno dos parques eólicos de Casa Nova-BA” (Eólicas de Casa Nova) é fruto de uma união de esforços institucionais no desenvolvimento de ações de Responsabilidade Social. Por um lado, a Embrapa Semiárido busca materializar métodos, meios e instrumentos de incorporação dos resultados da pesquisa aos sistemas de produção agropecuários, visando o incremento da produtividade, a redução dos custos de produção e a melhoria da qualidade de vida dos produtores familiares, sempre alinhados aos aspectos ambientais. Por outro lado, a Chesf se esforça em minimizar as dificuldades enfrentadas pela população impactada pela implantação dos parques eólicos no município e atender às condicionantes ambientais do licenciamento ambiental dos seus empreendimentos.

Assim, cabe à Embrapa Semiárido a coordenação do projeto, envolvendo parte significativa de sua equipe técnica e garantindo a interdisciplinaridade que o enfoque sistêmico e participativo, além do suporte administrativo e infraestrutura. A Chesf financia as ações do projeto. E a Prefeitura de Casa Nova também integra a parceria, disponibilizando profissional para condução dos trabalhos de campo e mediação das ações entre os pesquisadores e agricultores, além de ceder espaço para instalação do escritório do projeto no município.

A ação é continuidade de uma parceria iniciada em 2010, por meio do Projeto Lago de Sobradinho, que se estende até o ano de 2018. Esta ação, realizada nos municípios baianos de Casa Nova, Pilão Arcado, Remanso, Sento Sé e Sobradinho, contou com a participação de mais de 13 mil produtores em cursos, palestras e dias de campo. Também instalou e monitorou cerca de 640 Campos de Aprendizagem Tecnológica (CATs) e distribuiu mais de 130 toneladas de material genético, como manivas de mandioca, sementes de feijão, milho, milheto, sorgo, mudas de espécies forrageiras (palma, leucena e gliricídia), além de umbu gigante, maracujá-do-mato e outras frutíferas de espécies nativas. O projeto gerou, ainda, diversos resultados de pesquisa, com a publicação de mais de 80 artigos técnico-científicos.